quinta-feira, 22 de agosto de 2013

As dores do mundo


por Eder Ferreira


Pobre mundo, sofrido; gemendo...  
Com a boca seca, mundo desolado  
Para sempre, agora e no passado
Segue a sina; as dores contendo... 

Alegrias, emoções; desgraças, aflições...
Perversos sinais, reles vícios culposos
Falsos contentamentos, sempre amorosos
Que se entregam a todas as tentações

Miseráveis sentimentalismos capitais...
Moedas que compram a vida e a morte
Orações fervorosas, pecados carnais

Nesse pedaço de mundo, e em cada parte
No prazer, na dor, no azar e na sorte
Vive o evoluído, o sapiente, o covarde...
 

Poema publicado originalmente nos livros "O Exterminador de Sonetos", "O Exterminador de Sonetos - 2ª Edição" e "Toda Poesia". Para conhecer e adquirir os livros clique aqui 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Anti-herói


por Eder Ferreira


Em meu peito
Uma insígnia pulsa
Uma dor fortalece
Inerte e convulsa

Em minha mente
Uma voz é ouvida
O grito da alma
Mais vil e perdida

Em minhas mãos
O sangue coagulado
Escorre bem lento
Já frio, gelado

Em minha coragem
Que surge do nada
Minha vontade
É livre, é alada

Em meu heroísmo
Surgido agora
A dor enaltece
A agonia aflora

Em meu peito
Que pulsa, que dói
Já pode ser lido:
“Aqui jaz um herói”

Poema originalmente publicado nos livros "Palavras vazias" e "Toda Poesia"

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sobre a falácia da "cultura brasileira"


por Eder Ferreira

     Funciona assim: se eu não escrever meus livros, não diagramar, não fazer a capa, não revisar, não arrumar grana para a publicação e não fazer um bom marketing, nunca vou ver meu sonho de ser reconhecido como escritor se concretizar. E acham que alguém se importa com isso além de mim? Não! Estou sozinho, assim como vários escritores independentes e artistas que conheço. Essa é a triste realidade. Essa é a falácia da "cultura brasileira", que só funciona para (pseudo) artistas globais e nascidos em berço de ouro, cravejado com diamantes e rubis. Essa é a verdade escancarada, que se mostra todos os dias, quando abro um jornal, uma revista, ou um site na internet, e vejo a lista de livros mais vendidos no Brasil. Claro, lógico, evidente que nenhum dos meus DEZOITO livros que escrevi, incluindo ai um que publiquei às duras penas há alguns anos atrás, não estão nesta lista, muito menos o livro em que estou trabalhando no momento, ao menos na cabeça de quem (não) acompanha minha via sacra literária, nunca será listado como best-seller e nunca aparecerá nas páginas finais da revista Veja, como um dos mais vendidos. Tão pouco os concursos literários que venci ou que fui finalista terão, algum dia, alguma nota, nem que seja de rodapé, em algum jornal de grande (ou mesmo pequena) circulação. Funciona assim. Ou não funciona? Ao menos pra mim, a resposta é não!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Soneto à Festa do Senhor Bom Jesus da Cana Verde


por Eder Ferreira

Nesses dias de inverno, de intenso frio
Onde as flores já não mais florescem
Fervorosas bênçãos do céu descem
Trazendo seu amor, sua luz, seu brio

É ele que vem, com seu rubro manto
Na face, as dores, que cercam o mundo
Em seu olhar, pode se ver ao fundo
Toda paz que consola nossos prantos

Por isso, nem que caia uma tempestade
Sem falsas desculpas ou solenidades
Precisamos entender o que diz seu rosto

Peçamos cada dia mais ao Bom Jesus
Que mostre sua face banhada em luz
E abençoe nossa amada Festa de Agosto

Poema em homenagem à Festa do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, que acontece entre os dias 2 e 6 de agosto de 2013, na cidade de Siqueira Campos, Paraná

quarta-feira, 31 de julho de 2013

O merecido prêmio


por Eder Ferreira e Maneco Terra

Os trovões explodiam lá fora. Sob os anúncios inevitáveis de chuva, Eder e Maneco, dois amigos metidos a escritores, refletiam perante a tela do computador, com o programa Word aberto, sem que nenhuma linha tivesse sido escrita. Na verdade, mais do que reflexão, os dois forçavam suas mentes atrás de algo realmente inovador. Escrever um livro? Sim, todos sabemos que não é tarefa fácil. Porém, com os avanços educacionais e culturais, somados aos recentes saltos tecnológicos que a internet nos propicia a cada dia, escrever e publicar um livro não é mais uma missão hercúlea. Hoje, muitos podem ver suas idéias em livros, ou publicadas diretamente na rede, onde qualquer pessoa pode ler.
Mas, não era isso esses dois queriam. Em suas mentes, palavras e pensamentos dividiam espaço com brancos intermináveis. Como se seus cérebros quisesse funcionar em pleno vapor, mas, algo impedisse. As idéias até que fluíam, mas não se organizavam, afim de se ter um lampejo criativo digno de entrar para a história. Todavia, sabiam os dois gladiadores literários que hora outra algo teria que surgir, e que o silencio pensativo à frente do computador sem uso já era digno de nota.
Quando parecia que nada realmente surgiria, eis que Eder, em sua forma nada simplória de se expressar, diz, em calara euforia:
- Perai, já sei!
Maneco, com aquele olhar de fraco-atirador, que sempre está com um comentário crítico pronto a atacar quem ousar dizer qualquer asneira, limita-se a apenas balbuciar um “o que?”. Rapidamente, Eder se posiciona para o teclado, e começa a digitar algumas linhas, em grande velocidade. Maneco fica estático, apenas olhando para a tela, vendo nascer em letras maiúsculas uma curta frase de duas palavras apenas: “PRÊMIO NOBEL”.
- Mas, porque Prêmio Nobel? O que isso significa? – pergunta Maneco, com aquela cara de curiosidade nada típica.
- Simples – diz Eder – vamos nos inscrever no Prêmio Nobel!
Maneco, sarcástico como sempre, dá um sorriso de canto de boca, e diz:
- Mas... é a Fundação Nobel quem escolhe os indicados.
- Eu sei – diz Eder – mas, vamos arriscar. Vamos enviar nosso livro pelo correio. Fazemos uma tradução para o sueco, junto com uma carta de apresentação e nossas biografias...
E Eder continua com suas explicações estapafúrdias, sabendo que Maneco não concordará com tais idéias. Porém, para seu espanto, o eterno critico, dessa vez concorda.
- Boa idéia! – diz Maneco, arregalando os olhos.
- Você gostou da idéia? – pergunta Eder, com um olhar de espanto.
 Maneco, com sua incauta presença, apenas diz “sim”.
Assim, nos dias que se seguiram, os dois se puseram a traduzir seus textos para o sueco, bem como uma carta, onde apresentavam seus trabalhos como escritores, além, é claro, de suas nada breves biografias. Uma vez feitos tais tramites, embalaram tudo em um grande envelope. Eder pesquisou na internet o endereço da sede da Fundação Nobel, em Estocolmo, na Suécia, bem como os procedimentos para enviarem o envelope via aérea.
Enfim, mandaram o trabalho pelo correio, sem nenhuma esperança de que houvesse qualquer retorno. Mas um dia, enquanto trabalha fielmente em sua saparia, Maneco levou um enorme susto quando viu Eder adentrar-se com euforia.
- Maneco! Ganhamos! Ganhamos o Nobel de Literatura...
Ao ouvir isso, Maneco levantou-se de sua cadeira, e disse:
- Mas, como? Isso é brincadeira, não é?!
Foi quando Eder retirou de dentro de um grande envelope, duas medalhas e dois diplomas, nitidamente cunhados pela Fundação Nobel. As medalhas continham o rosto em perfil de Alfred Nobel, enquanto que nos certificados constavam algumas coisas escritas em outro idioma, provavelmente o sueco. Maneco pegou uma das medalhas, verificou-a com cuidado e disse:
- É, parece real. Mas, e o prêmio em dinheiro?
- Pois é – explicou Eder – também veio essa carta, em português. Aqui tá escrito que, como nos escrevemos via correio, não dava pra mandar o cheque do prêmio, então, ele será doado para alguma instituição de caridade.
Maneco faz uma cara de descontente. Queria o prêmio, era óbvio. Porém, apesar de não ganhar o dinheiro, reconfortou-se ao ver que, ao menos uma vez, seus textos haviam sido reconhecidos, e logo pelo Prêmio Nobel. Ainda com a medalha na mão, ele olha para seu amigo e companheiro de batalha no mundo das letras, e solta uma de suas perolas inevitáveis.
- Valeu companheiro... ano que vem, rumo ao bi!