quinta-feira, 26 de abril de 2012

Toda forma de amar



 por Eder Ferreira

amor sereno
tão pleno
ilógico
ameno

amor selvagem
impuro
tão claro
escuro

amor silvestre
campestre
passado
rupestre

amor senil
anil
tão jovem
maduro

amor sônico
platônico
audível
catatônico

amor igual
diferente
ausente
mortal

amor que cresce
desaparece
mas volta
casualmente

amor distante
relevante
puro
ofegante

amor verbo
a conjugar
o delirante
poetar

amor que é
em si
toda forma
de amar

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Bonecos de cera



por Eder Ferreira

Olhe para mim, e me diga o que vê


Um séquito de mesquinharia

Um ninho de aves mortas

Um ser consumido pela vida

Uma vida que se consumiu sem querer


Olhe para si, e se veja


Em meu lugar, com meus erros

Com minha alma desgastada

Pelo tempo que se perdeu em vão

Pela vida que se tornou ação

Na estática percepção do que é certo e errado


Olhe para nós, e me diga


Quanto tempo mais falta

Para que percebamos o que nos mata

O que nos consome

O que nos separa


Olhe para o vazio


E finja ser um desvario

Finja que nada aconteceu

Finja que você está aqui

Que eu estou ai

Que essa é apenas mais uma vida

Nos separando da felicidade

Nos desviando da plenitude

Nos fazendo mais uma vez bonecos de cera


Parados, inertes, sós

Enquanto o resto do mundo finge estar em movimento


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Veneno



por Eder Ferreira

Escorrendo solto

pelo canto da boca

outrora sorridente

agora, tão ardente

Envolvendo, enlaçando

Entrelace de linhas

Peçonhas tão finas

no laço venenoso

que toca a pele

O espaço poroso

entre a carne

e o ar rancoroso

se faz perigoso

se faz meio ausente

Cobra criada

armada, até os dentes

que mordem os lábios

e roem as vísceras

expostas pelo acido

Plácido veneno

que agora te dou

neste beijo sereno

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O último pecado



por Eder Ferreira

Erros eternos

Fraternos pecados

O amor que ainda dói

A ferida aberta

São todas formas certas

de se viver aos pedaços

Fragmentos humanos

Pedidos profanos

a um deus invisível

Momentos felizes

Meros deslizes

de uma alma falível

Fato puro, concreto

é todo mal obsceno

radicalmente sereno

Sem lastima ou afeto

Perdão sem sentido

ao um coração ferido

por não saber viver

Sem mais o que dizer

Nada para fazer

Nada que já foi feito

E nada que se fará

Pois o último pecado

é nada mais que a véspera

do próximo que virá

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Revista Cultura Siqueirense nº 2 (Abril de 2012)


Entre os sonhos



por Eder Ferreira


Acordado, mas querendo dormir

Tentando esquecer que

estou em um pesadelo

Desespero, consumindo a realidade

que tanto lutei para construir

Desgastando a verdade

que me esforcei para não omitir

Destruindo os sonhos

que outrora sonhei

que tanto desejei

Mas, entre os sonhos

sempre houve algo real

entre o bem e o mal

Algo ao longe, mas tão perto

Entre cada devaneio

um lampejo de amor

que tenta, agora, acabar com essa dor

com esse triste sonho

que logo chegará ao fim