Por Eder Ferreira
Desfragmente o tempo. Depois o remonte, como um
quebra-cabeça. Cada peça em seu lugar, cada pedaço colocado ao lado de seu par.
Como desfragmentar o tempo? Muito simples. É mais
fácil do que parece. E há várias formas de se fazer isso. Existe a maneira
clássica, os famigerados historiadores.
Antigo, medieval, moderno e contemporâneo. Mas, o que ainda virá, não
faz parte do tempo?
Prefiro assim:
Tempos passados: incontáveis anos, décadas,
séculos, milênios. Memórias perdidas na linha instável do que já se foi.
Mesopotâmia, Roma, Grécia, Egito... Nações que surgiram e caíram. Apesar de me
ater aos números e às letras, sempre me pego a espiar o buraco da fechadura do
tempo que não volta mais. Até do Brasil que, dizem, não tem memória. Admiro a
covardia dos generais e a coragem dos opositores. Tempos longínquos. Saudades
imemoriáveis. Tempos nostálgicos, de quando ainda valia a pena viver...
Tempos presentes: inexistentes. Ou melhor:
inexplicáveis. Talvez imperceptíveis seja a melhor definição. O presente,
praticamente, não existe. Nem um milésimo de segundo separa o passado do
futuro. É como a cabeça de um alfinete. Presente mesmo, só quando se faz
aniversário. Se bem que nem isso, já que o presente temporal não é dos
melhores.
Tempos futuros: se o que está acontecendo já é uma incógnita,
o que dizer do que ainda não aconteceu? Meros devaneios. Há previsões para
todos os gostos. Das mais otimistas, como prosperidade, paz mundial, o Brasil
como potência econômica, e blábláblá, até as mais pessimistas, como guerra,
peste, morte, fome, e mais algum cavaleiro apocalíptico que quiserem inventar.
Ou seja, é melhor deixarmos o futuro para os verbos.
Assim se resume o tempo. Mas dá para fazer outras
divisões: só passado e futuro, eras geológicas, em grupos de anos, etc.
Em tempo, desfragmente-o de qualquer maneira. Ou
deixe-o assim mesmo, seguindo seu relativístico eixo. O tempo nos permite que
brinquemos com seus minutos e segundos, que contemos seus dígitos de trás para
frente, que percamos horas vendo a areia de uma
ampulheta cair lentamente,
que deixemos de nos preocupar com os atrasos, que acordemos cedo
e enrolemos até a hora de sair para o trabalho, que fiquemos até altas horas da
madrugada vendo TV sem nos preocuparmos com o dia seguinte, que escrevamos
crônicas insanas sobre ele próprio, etc...
Enfim, isso é
o tempo. Mas, atenção, uma hora ou outra o tempo acaba. Todavia seus fragmentos
para sempre irão pairar sobre o eterno abismo da existência. Seja inteiro ou em
pedaços, siga-o até o fim. Até porque, você não tem outra escolha...
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