Imagine intrépido leitor (ou leitora) se, um dia, os gêneros
literários se personificassem, e começassem a dialogar entre si. Pois deixe de
imaginar e confira o resultado:
SONETO: Sou eu, o melhor entre todos; aquele que versifica o mundo;
e mostra aos pobres tolos; como, ao coração, ir bem fundo...
POESIA: Cale-se, Soneto moralista. Não vê que está ultrapassado;
Agora sou eu, que graças aos modernos versifico esse mundo injusto e ingrato...
SONETO: Não me fingirei de morto; seguirei firme em caminhar; e,
no mais belo horto...
CONTO: Por favor, deixe-me falar, senhor Soneto. Gostaria de lhes
contar...
CRÔNICA: Lá vem esse Conto metido! Mas afinal, é conto de que? De
réis? Ou seria do vigário?!
POESIA: Sempre assim, a afamada Crônica. Sei que, como o expoente
da nova prosa, engrandece-se em dizer suas ironias; mas, cuidado, advirto-lhe; não
há prosa que vença a insanidade acometida da Poesia e seus encantos líricos!
ENSAIO: Estava ali, logo ao lado, a dialogar com meu amigo, o
Tratado, e acabei por escutar o que conversavam. Tenho uma breve teoria sobre
esse debate que tão acaloradamente iniciaram...
CRÔNICA: Breve? Breve é meu salário! Ta certo que o Tratado é pior
que você, mas bem que tu não fica pra trás. Quando começa a falar não para
mais.
ROMANCE: “Rapidamente, ela viu seu amado adentrar-se pela porta.
Não aguentou, e suas lágrimas escorreram pelo seu rosto liso e belo.” E então, gostaram?
Estou quase terminando.
CONTO: Meu caro Romance. Sabe que suas histórias são demasiadas
extensas. Tem que criar coisas mais simples.
ENSAIO: Pois bem, agora o debate chegou no ponto certo. Posso
começar a narrar minhas teorias sobre o tamanho ideal de um texto?
TODOS: NÃO!!!
CONCLUSÃO: Com licença. Posso me meter na conversa de vocês?
POESIA: Quem é tu, cara de tatu! Ahahahah!!! Por que estão me
olhando com essa cara?! Nunca leram poesias humorísticas?
CRÔNICA: É, quem é você, cara de fuinha?!
CONCLUSÃO: Meu nome é conclusão.
SONETO: Conclusão? Rima com coração...
ENSAIO: Seus tolos. A conclusão é quem encerra alguns tipos de
textos.
ROMANCE: Que tipos de textos? Não me lembro de nenhum texto meu
ter sido encerrado por essa tal conclusão.
ENSAIO: Geralmente ela encerra Ensaios, Artigos, Tratados, e outros
textos mais técnicos. Não se preocupem. Ela não pode encerrar esse texto.
CONCLUSÃO: É aí que você se engana. “E para encerrarmos esse texto
sem nenhuma importância técnica, é importante frisarmos que em nada ele colaborou
para o engrandecimento dos principais interessados: os leitores.”
ANEXO: Calma lá! Se esqueceram de mim, não é? Não tenho muito
espaço para ceder, mas se alguém quiser dizer alguma coisa?
SONETO: Eu tenho algo a perguntar: O que rima com inércia?
CONTO: Pelo menos esse texto foi classificado como Conto. Aqui pra
você Romance!
CRÔNICA: Cara de fuinha!
FIM
Esse conto foi publicado originalmente no livro "Uma Verdadeira Prosa - Contos & Minicontos". Para saber mais clique aqui
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