quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Uma Verdadeira Prosa

por Eder Ferreira


Imagine intrépido leitor (ou leitora) se, um dia, os gêneros literários se personificassem, e começassem a dialogar entre si. Pois deixe de imaginar e confira o resultado:

SONETO: Sou eu, o melhor entre todos; aquele que versifica o mundo; e mostra aos pobres tolos; como, ao coração, ir bem fundo...

POESIA: Cale-se, Soneto moralista. Não vê que está ultrapassado; Agora sou eu, que graças aos modernos versifico esse mundo injusto e ingrato...

SONETO: Não me fingirei de morto; seguirei firme em caminhar; e, no mais belo horto...

CONTO: Por favor, deixe-me falar, senhor Soneto. Gostaria de lhes contar...

CRÔNICA: Lá vem esse Conto metido! Mas afinal, é conto de que? De réis? Ou seria do vigário?!

POESIA: Sempre assim, a afamada Crônica. Sei que, como o expoente da nova prosa, engrandece-se em dizer suas ironias; mas, cuidado, advirto-lhe; não há prosa que vença a insanidade acometida da Poesia e seus encantos líricos!

ENSAIO: Estava ali, logo ao lado, a dialogar com meu amigo, o Tratado, e acabei por escutar o que conversavam. Tenho uma breve teoria sobre esse debate que tão acaloradamente iniciaram...

CRÔNICA: Breve? Breve é meu salário! Ta certo que o Tratado é pior que você, mas bem que tu não fica pra trás. Quando começa a falar não para mais.

ROMANCE: “Rapidamente, ela viu seu amado adentrar-se pela porta. Não aguentou, e suas lágrimas escorreram pelo seu rosto liso e belo.” E então, gostaram? Estou quase terminando.

CONTO: Meu caro Romance. Sabe que suas histórias são demasiadas extensas. Tem que criar coisas mais simples.

ENSAIO: Pois bem, agora o debate chegou no ponto certo. Posso começar a narrar minhas teorias sobre o tamanho ideal de um texto?

TODOS: NÃO!!!

CONCLUSÃO: Com licença. Posso me meter na conversa de vocês?

POESIA: Quem é tu, cara de tatu! Ahahahah!!! Por que estão me olhando com essa cara?! Nunca leram poesias humorísticas?

CRÔNICA: É, quem é você, cara de fuinha?!

CONCLUSÃO: Meu nome é conclusão.

SONETO: Conclusão? Rima com coração...

ENSAIO: Seus tolos. A conclusão é quem encerra alguns tipos de textos.

ROMANCE: Que tipos de textos? Não me lembro de nenhum texto meu ter sido encerrado por essa tal conclusão.

ENSAIO: Geralmente ela encerra Ensaios, Artigos, Tratados, e outros textos mais técnicos. Não se preocupem. Ela não pode encerrar esse texto.

CONCLUSÃO: É aí que você se engana. “E para encerrarmos esse texto sem nenhuma importância técnica, é importante frisarmos que em nada ele colaborou para o engrandecimento dos principais interessados: os leitores.”

ANEXO: Calma lá! Se esqueceram de mim, não é? Não tenho muito espaço para ceder, mas se alguém quiser dizer alguma coisa?

SONETO: Eu tenho algo a perguntar: O que rima com inércia?

CONTO: Pelo menos esse texto foi classificado como Conto. Aqui pra você Romance!

CRÔNICA: Cara de fuinha!

FIM

Esse conto foi publicado originalmente no livro "Uma Verdadeira Prosa - Contos & Minicontos". Para saber mais clique aqui

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